Desde que os Estados tiveram de atar os seus pacotes de resgate, em toda a parte se gosta de usar novamente lentes nacionais. Que a falência do Lehman Brothers (o que foi isso?) tenha provocado uma reacção em cadeia, que revelou por um momento a rede mundial de créditos malparados, isso é considerado um excesso de quaisquer mercados financeiros sem pátria. Gosta-se de pensar num mundo de economias altamente patrióticas sob o guarda-chuva protector do governo e dentro das quatro paredes caseiras. Na realidade, os mesmos fluxos transnacionais de mercadorias e dinheiro, os mesmos desequilíbrios globais e circuitos de deficit continuam a ser subsidiados tal como antes, só que agora pelo crédito público, em vez de pelas bolhas financeiras comerciais. E mesmo os fundos públicos também são tudo menos nacionais.
O capitalismo é considerado como indestrutível e a globalização qualitativamente nova é de preferência recalcada, pelo que a questão que se coloca parece ser apenas quem sobe ou desce entre as grandes empresas, ou quem são os vencedores e os perdedores nacionais. A China vai substituir os EUA como potência mundial económica e política? Esta "grande narrativa" dos média é completamente cega à realidade, porque já não vivemos num século de impérios nacionais independentes. Os excedentes de exportação da China para com os Estados Unidos, novamente a aumentar de mês para mês, são financiados pela inundação de dinheiro da Reserva Federal americana. Inversamente, os chineses alimentam o crescimento interno promovido pelo Estado a partir das suas astronómicas reservas cambiais principalmente em dólares. A interdependência é tão grande que o tropeço de um faz o outro ir também ao chão. Nem individualmente nem em conjunto eles conseguem controlar a sua relação inconsistente.
Na Europa procede-se como se as crises de dívida da Grécia e dos outros candidatos a vacilar fossem problemas domésticos que pudessem ser dominados pelo esforço de poupança nacional. De facto, os deficits na UE são o reverso dos excedentes de exportação da Alemanha. Se a economia alemã tivesse de se concentrar no mercado interno entraria imediatamente em colapso. Até agora as medidas de austeridade draconianas no sul e no leste da Europa, como de resto também na Grã-Bretanha, em grande parte não passaram de palavras. Se forem plenamente realizadas é de esperar uma recessão europeia com implicações globais. E se a Grécia falir, precisamente por poupar até estourar, as pessoas vão-se admirar como os títulos da dívida pública grega estão armazenados por todo o lado. O caso não é muito diferente dos certificados do Lehman Brothers e o mesmo se diga dos créditos públicos mal parados por todo o lado. O capital é internacional em todas as suas formas. Se os protestos contra os programas anti-sociais de gestão da crise se limitarem a invocar tacanhamente a independência nacional eles só podem rodar em falso."
Original em www.exit-online.org. Publicado em “Neues Deutschland”, 27.06.2011 (By Robert Kurz)
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