Todos conhecem a velha fábula de La Fontaine sobre a Formiga e a Cigarra.
A formiguinha, sempre que podia e durante todo ano, passava o dia a mourejar, até o sol se pôr, para arranjar alimento para o Inverno, estação em que normalmente chovia e pouco havia que comer. Pelo contrário, a camarada cigarra, cantando por toda a parte, sempre de violão atrelado e por isso muito popular, nada fazia para se precaver contra os maus tempos futuros, comendo à tripa forra, enquanto a abundância da época lho permitia, dormindo a sua sesta para fazer uma boa digestão, e cantando aos quatro ventos louvores ao consumismo. No Inverno, acabou a brincadeira, e não havendo nada para tragar, nem local seco para pernoitar, a cigarra foi pedir ajuda à formiguinha. A resposta tanto podia ser com a ladina formiga a bater com a porta na cara da preguiçosa e imprestável cigarra como, ao contrário, após ter ouvido os incitamentos da Igreja à solidariedade, a abrir-lhe cristãmente a porta, a dar-lhe de comer e o necessário agasalho. Claro que apareceu uma posterior fábula a subverter a situação. Houve um “volte-face” político na região, as cigarras subiram ao poder e obrigaram as formigas a partilhar com elas tudo aquilo que tinham ganho com o suor do seu rosto. Com o decorrer do tempo, não aguentando tanto trabalho para sustentar o parasitismo das cigarras, as pobres formiguinhas começaram a definhar e a morrer, acabando indirectamente com a raça dos que pretendiam viver à custa dos outros e tudo controlavam através do poleiro político. A “mal acomparado”, como se diz na minha terra, os portugueses andaram a viver à grande e à francesa com os dinheiros comunitários, pensando que aquele maná não tinha fundo. Bem avisavam os “Velhos do Restelo”, nas tribunas públicas, como o Arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles e os seus seguidores, que os portugueses tinham obrigatoriamente que fazer uma pausa e saber como podiam e deviam viver, atendendo à cada vez menor produção nacional, à destruição das pescas, à diminuição da produção agrícola, à quase extinção da indústria pesada, entre outros factores. Mas não, quem assim falava, era considerado pela maioria um valente retrógrado e um reaccionário de primeira que gostava de criar obstáculos ao consumo e ao bem estar dos outros. Para cúmulo esta situação acobertada pela cegueira dos responsáveis que nos governavam. Pois foi. Agora, “alimpem-se” a este guardanapo, como diria o grande actor Chabi Pinheiro. Na verdade, tendo em consideração a conjuntura europeia, temos que nos capacitar que não podemos viver e manter o mesmo nível de vida. Temos que gastar menos, viver mais modestamente e investir somente naquilo que for produtivo e traga a imprescindível riqueza à nossa terra. Estou a escrever para um jornal de uma comunidade que sabe bem o que custa a vida e que muito labutou para a transformar numa das mais fortes e mais ricas industrialmente falando. Teremos que pôr novamente o nosso espírito criativo em funcionamento e, com os sacrifícios que forem necessários, voltar a colocar os nossos pobres recursos na senda da recuperação económica do País, tornando desse modo a nossa vida e da sociedade em que vivemos, mais sustentável e, consequentemente, mais equilibrada e feliz.
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