[Por António
Moniz Palme]
Portugal
sempre foi muito atreito às modas seguidas nos outros países. E não foram só as
modas dos gibões, dos penteados e dos costumes sociais. Na verdade, tal como a
altura das saias, o portuguesinho foi sempre sensível e volúvel aos costumes e
usanças políticas que se praticavam na vizinha Castela, nas terras da Flor de
Lis e até na “Loira Albion”.
E o
copianço indiscriminado das modas, através de séculos, levou infelizmente Portugal
ao atoleiro onde nos encontramos. Essa é que é a triste verdade.
A
primeira tentativa de ataque dos usos políticos estrangeiros na Lusitânia, foi
provocada pelas rabanadas de vento do Feudalismo que grassava por toda a Europa.
Felizmente, os Reis das Primeiras Dinastias tiveram a sensatez de reservar para
si a tutela dos interesses da colectividade, não abdicando dos seus poderes e
não facilitando a criação de potentados senhoriais. Em conclusão:- Não
toleraram a entrada no reino das modas vizinhas. Assim, em vez da administração
do Poder Real se apoiar nos grandes Senhores do seu Território, apesar da gratidão
pela sua imprescindível ajuda na Reconquista, foi-lhes sempre tirando todo o
tipo de competências de carácter político, sendo entregue a gestão da coisa
pública a súbditos que, embora da nobreza, ou do clero ou do povo, não
pertenciam aos importantes e fortes Senhores do Reino. Na verdade, os
governantes não eram escolhidos entre os Condes Portucalenses, embora fossem amigos
íntimos dos Monarcas, como era o caso de D. Ermígio e de D. Egas Moniz, dos
Senhores de Riba-Vizela, dos Senhores de Riba-Douro e dos Braganções. A Coroa
fez-se escudar pelas Ordens Militares e pelo Povo, através dos Forais e das diferentes
Corporações de Artesãos. A Liberdade e a Autonomia Local foram mantidas pelo Poder
Real e constituíram factores primordiais no impedimento da criação de poderes
paralelos, dentro dos limites da fronteira portuguesa. Era este o panorama
durante a vigência da Monarquia Tradicional.
Mas
os ventos da Europa, devido à mundialização económica da Pátria Lusa, principalmente
após os descobrimentos, começaram a soprar mais forte durante a Restauração. E
tal acontecia, apesar de D. João IV ter sido aclamado pelos seus súbditos e de
terem sido reunidas Cortes em 1641, com os Três Estados, para o novo Rei ver
aprovado o seu plano de governação, o natural reforço do exército, bem como a
cobrança dos respectivos impostos. Apesar de tal, repito, esse espírito
democrático traduzido pela audiência regular dos súbditos, não se conseguiu manter,
pois as Modas exigiam o fim da imediação do Rei com o seu Povo, acabando com a
tradicional Liberdade.
Para
bem se verificar como na conjectura funcionava a democrática representação do
nosso Povo, estiveram presentes, nessas Cortes, procuradores de 87 concelhos e
os representantes das Casa de Mesteres, dos 24, dos 12 ou de qualquer outro
número, consoante a quantidade de actividades existentes localmente. Enfim, uma
exemplar democracia, atendendo às práticas e aos valores vigentes na altura.
Todavia, as Modas não democráticas irromperam invencíveis.
E ficou muito difícil evitar que nos atingissem! Na Europa, usava-se o
Absolutismo Esclarecido, o poder dado directamente aos Reis pelo Divino
Espírito Santo, e não através do Povo, como preconizavam as Teorias Tomistas e
as doutrinas de Francisco Suarez, que sempre por aqui foram seguidas. A Teoria
Contractualista do Poder nunca deixou de ser acatada até ao advento do
Absolutismo. Os reis eram aclamados e teriam que governar em prol do bem comum,
pois tinham recebido o poder, sob a condição tácita de reger bem e
“direitamente” Se não governassem em condições, poderiam ser corridos por
decisão das Cortes, como aconteceu na Monarquia Tradicional, nomeadamente aos
Irmãos mais velhos de D. Afonso III e de D. Pedro II.
Mas
o povo de Lisboa e os alto dignitários da Igreja, bem como os elementos da nobreza
alfacinha, sempre os mesmos através da história, diga-se a verdade, começaram a
escutar as sereias vindas da Europa, que opinavam com sobranceria, constituir Portugal
um péssimo exemplo, pois gastava um dinheirão a trazer às Cortes os representantes
do Povo, uns iletrados sem qualificação alguma, bem como os ignaros do clero e
da nobreza da província. Era dinheiro inutilmente deitado à rua. Bastava ver o que
se passava em Castela e noutros países civilizados. E a gente de Lisboa, como
sempre, começou a protestar por se despender tanto dinheiro com imprestáveis Cortes,
apontando, com dedo acusador, o progressista figurino europeu. Enfim, estavam a
apoiar candidamente o fim dos seus próprios hábitos de liberdade.
Quase
envergonhados e à socapa, não concordando com esta moda tão perversa, remando
contra o correctamente político, os nossos reis ainda iam dando audiências ao
Povo, mandando abrir as portas do seu paço, algumas vezes por semana, para
ouvirem as queixas e a reclamações dos seus vassalos.
Contudo, as modas do Absolutismo Esclarecido eram
inexoráveis e varreram do panorama nacional as Cortes. E o Marquês de Pombal deu-lhes
a machadada final, não poupando sequer as incómodas audiências!
A
ligação do Rei com o Povo foi cortada em nome da Moda.
E,
através dos tempos, a estratégia governativa estrangeira continuou a fazer sentir
os seus efeitos. À moda do Centralismo Despótico Absolutista, seguiu-se a moda
do Centralismo Racionalista Iluminado. O Povo continuou a não ser ouvido nem
achado para nada e a ser agora dominado por um Parlamento que hipoteticamente
dizia representá-lo, mas era apenas constituído por deputados que se digladiavam
por interesses políticos partidários, quer pessoais quer de grupo, mandando às
malvas a “res pública”. Na altura, acabaram com os juízes nomeados pelo Rei, gente
competente, muitas vezes formada em universidades estrangeiras, pois os
partidos temiam que as figuras dos magistrados com o seu exemplar comportamento
e conhecida sapiência exercessem, do ponto de vista da politicagem da altura, influência
nefasta no sentido das votações eleitorais. Mais, a Câmara dos Pares, formada
por gente independente dos partidos, perante o protesto veemente de Almeida
Garret, viu as suas portas fechadas. Na verdade, era um atentado à Moda
Vigente, ter gente independente dos partidos a dar a sua opinião ao poder executivo!!!
E como se tal não bastasse, acabaram imediatamente
com os Juízes escolhidos pelos habitantes dos concelhos, conforme estabelecido
nos termos dos respectivos Forais.
Tudo
o que fosse manifestação do Poder Local foi banido drasticamente em nome do
Liberalismo. O Centralismo acabou mesmo com os Baldios que completavam a
economia das populações rurais de cada povoação, passando as terras,
invariavelmente, para a mão de particulares, muitas vezes os caciques políticos
locais dos partidos com assento nas Cortes. Mas o que se usava lá fora foi
respeitado, “benzós Deus!”
…` Enfim, modas, cujo feitio nos apertava e não
iam com a cor da nossa pele e do nosso temperamento, a funcionarem em pleno e a
encandear os responsáveis políticos de então. E tinham tanto peso, que os
estrangeirados, puseram as suas progressistas ideias, acertadas pelas correntes
políticas de outros países, acima do amor à independência portuguesa, festejando
e indo aclamar a entrada em Lisboa dos soldados invasores do General Junot. Inacreditável,
dirão, mas foi a triste verdade. Autênticos traidores, já se vê, mas imbuídos pelas
modas de então que viam imbecilmente a aplicação da legislação napoleónica como
uma salvação do país, mesmo à custa da perda da soberania portuguesa.….Pobre
Portugal. Ainda hoje estamos a pagar esse estigma da legislação napoleónica.
Mas não se pense que o seguidismo ficou por aí…!
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